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Acontecimentos (14/6)

Leia um poema do livro "Salmos mestiços" (Caos e Letras), de César Gilcevi, com lançamento neste sábado, de 14h às 18h, no Espaço Casa de Caboclo

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Um poema de César Gilcevi


“dó”

mesmo decapitada
a galinha ainda corria pelo quintal
a aflição das asas desajeitadas
que nunca voaram e sobre elas
o chafariz flamante

chorosos nos abrigávamos
nos galhos do abacateiro
minhas irmãs protestando
tadinha vó ainda tá viva deixa ela

a vó dava um muxoxo
meninada besta ela enviesa
é na vereda da dó de vocês
deixa de chororô que ela morre logo

no fogão a lenha já aguardava
um tacho de água fervente
as mãos negras escudadas
de tantos calos alentavam brasas
e rapidamente depenavam a ave

pouco antes do meio dia
chegavam em visita as tias

ester que ava as noites
conversando com os espíritos
rosa que sempre me presenteava
com uma caixa de bombons garoto
elza que não ia à igreja e me deixava
escondido beber o sangue de cristo

para fartar a mesa cada uma trazia um prato
batata com maionese arroz lobrobô
o seboso macarrão com urucum
espremido na jarra o limão capeta
amansado com água e mascavo

e todos se aglomeravam
ao redor do adio domingueiro
eu quero a coxa tia o sobrecu é meu
credo mãe que nojo você
mastigando esse pé
quero repetir quero as asas
e a moela menino come o fígado
é amargoso mas é
bom pro seu corpo

e a vó perguntava rindo
pra onde foi a dó de vocês
agoraque o bucho tá cheio?


Poema do livro “Salmos mestiços” (Caos e Letras), de César Gilcevi, com lançamento neste sábado, de 14h às 18h, no Espaço Casa de Caboclo (Rua Almandina, 123, Santa Tereza), com apresentações e performances de Gilcevi, sco Napoli, Carlos Alma Tambor e Fred HC. “Coloquei no livro minha matéria vivencial e estética: a realeza da malandragem, dos povos da floresta e da rua, da cachaça jogada pro santo barroco, do samba batucado na caixinha de fósforos; a ginga do erê correndo da viatura, o curumin desaldeado na urbe: poesia rigorosa de caboclo, esse ser controverso, múltiplo e racialmente escanteado no brasil contemporâneo”, conta o poeta mineiro.


Lançamento

Será lançado na próxima quarta-feira (18/6), em Belo Horizonte, o livro“Caramurus negros: a revolta dos escravos de Carrancas - Minas Gerais (1833)”, fruto de mais de 30 anos de pesquisas do mineiro Marcos Ferreira de Andrade, doutor em história pela Universidade Federal Fluminense e professor do curso de história da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

Organizador da obra e autor do posfácio, Ferreira de Andrade aborda o episódio conhecido como “Revolta de Carrancas”, que resultou na maior condenação coletiva de escravizados à pena de morte durante a escravidão no país. O lançamento será às 19h, na Livraria Jenipapo (Rua Fernandes Tourinho, 241, Savassi), com bate-papo do autor com os professores José Newton Coelho Menezes (UFMG), Ivan Andrade Vellasco (UFSJ) e Moacir Rodrigo Castro Maia (Universidade Federal de Viçosa).

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