
Promotora acredita que médico denunciado por estupro pode ter mais vítimas
Até a tarde de terça-feira, oito mulheres haviam denunciado o médico, incluindo pacientes e funcionárias da unidade de saúde
compartilhe
Siga noO médico mastologista preso sob suspeita de estupro no Hospital Nossa Senhora das Dores, em Itabira, na Região Central de Minas Gerais, acumula novas denúncias de violência sexual. Duas novas acusações foram feitas na terça-feira (4/2), após a detenção de Danilo Costa ganhar destaque na mídia. Representantes dos órgãos de segurança pública afirmaram que mais mulheres podem surgir com denúncias ao longo do inquérito.
Até o momento da prisão, oito mulheres haviam denunciado o médico, entre elas pacientes e funcionárias da unidade de saúde. Em entrevista ao Estado de Minas, a promotora da 3ª Promotoria de Itabira, Marianna Michieletto da Silva, explicou que, apesar da diversidade nos crimes relatados, o modus operandi do médico é semelhante em todas as acusações.
-
05/02/2025 - 18:06 Pais de crianças com deficiência denunciam falta de monitores em Ouro Preto -
05/02/2025 - 19:02 Estrada de Ferro Vitória a Minas recebe 34 novos vagões de ageiros -
05/02/2025 - 18:39 Chuvas em Minas: governo reconhece situação de emergência em Barbacena
A primeira denúncia contra Costa foi feita em 24 de janeiro deste ano. Na ocasião, uma paciente do médico, que fazia acompanhamento oncológico em Itabira, mas reside em João Monlevade — cidade a 36 quilômetros de distância —, foi estuprada no consultório durante um atendimento. Michieletto contou que, nesse caso, a violação foi seguida de violência, uma vez que a vítima relatou que o profissional tapou sua boca e a impediu de pedir ajuda.
Conforme o registro policial, feito no dia dos fatos pela filha da paciente, após o abuso, Danilo teria entregue à vítima uma receita médica e solicitado que ela retornasse para uma nova consulta em 90 dias. Além disso, segundo o boletim de ocorrência, o homem teria pedido que a paciente saísse por um corredor lateral para não ser “percebida”.
Na época, a Polícia Militar chegou a procurar o médico em seu local de trabalho e em sua residência para a prisão em flagrante, mas ele não foi encontrado. A vítima foi então encaminhada ao hospital e seguiu todo o protocolo de atendimento para vítimas de crimes contra a dignidade sexual. Ao longo das investigações, o Hospital Nossa Senhora das Dores afastou o profissional de suas funções.
Outros crimes
O inquérito que investiga as ações do mastologista ainda não foi concluído. Com a prisão preventiva decretada e cumprida, a Polícia Civil tem dez dias para indiciar o suspeito e apresentar denúncia ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). João Martins Teixeira, delegado responsável pelas apurações, afirmou que a corporação ainda trabalha com a possibilidade de denúncia por estupro, importunação sexual, assédio sexual e violação sexual mediante fraude.
Uma das últimas vítimas a denunciar o médico relatou que a violação ocorreu durante um exame de ultrassom. A mulher disse à polícia que, na ocasião, estranhou o ato libidinoso e chegou a cogitar se o que estava acontecendo fazia parte do exame. "ei pelo constrangimento durante todo o exame. Fez um comentário muito desagradável sobre o meu corpo e chegou a perguntar se eu tinha silicone", relatou.
Uma funcionária da unidade de saúde relatou à polícia que, sempre que a encontrava nos corredores do hospital, o médico a forçava a abraçá-lo, o que lhe causava grande constrangimento. Para a promotora do caso, o médico se aproveitou da vulnerabilidade das vítimas para cometer os crimes. Agora, o Ministério Público acredita que, com as novas denúncias, será possível traçar um perfil do denunciado. “Algumas das vítimas se encontravam bastante fragilizadas. São pacientes oncológicas que estavam com ele, inclusive, para reconstrução de seios ou para algum tratamento relacionado à investigação da própria doença”, explicou Marianna.
Medo
Tanto a Polícia Civil quanto o Ministério Público acreditam que o suspeito tenha feito mais vítimas do que as já registradas. Michieletto explicou que, até então, a denúncia mais antiga remonta a um abuso ocorrido em 2019. Outro ponto levantado pela promotora é que o médico atuava em, pelo menos, 26 municípios.
“O que todas essas vítimas que apareceram após o dia 24 têm em comum é o medo de serem desacreditadas, por isso não denunciaram antes. Elas temiam que a palavra delas não fosse suficiente contra a do médico, receavam ser as únicas vítimas e sentiam vergonha. Muitas eram casadas e não haviam contado aos cônjuges o que havia acontecido. Após a divulgação do caso, as vítimas se sentiram encorajadas a relatar o que aconteceu, o que tem contribuído para a investigação e para traçar o perfil e o modus operandi do investigado”, enfatizou.
Apesar da prisão, diligências ainda estão sendo realizadas para coleta de testemunhos e exames periciais. O delegado Teixeira enfatiza que possíveis vítimas podem procurar a Delegacia da Mulher de Itabira, caso queiram fazer alguma denúncia. "Estamos preparados e dispostos a receber outras vítimas que queiram denunciar. Elas podem se sentir seguras e à vontade, pois contamos com uma equipe especializada no acolhimento à mulher, em um local adequado. Todos os membros da Delegacia da Mulher estão cientes do inquérito e prontos para atender eventuais vítimas. Caso não queiram ir até a delegacia, podem entrar em contato com a Polícia Civil pelos números disque 100 ou disque 181."
O que diz a defesa
Na tarde de terça-feira (4/2), o médico ou por uma audiência de custódia. Na ocasião, sua defesa solicitou a revogação da prisão preventiva; no entanto, a juíza responsável pediu vista do processo para decidir, ou seja, a magistrada terá o às informações da investigação para determinar se a prisão será mantida. No pedido encaminhado à justiça, o Ministério Público argumentou que o médico "representa perigo à ordem pública", pois continua exercendo suas atividades médicas, o que o coloca em posição de fazer novas vítimas. Além disso, o órgão afirmou que o investigado usou sua posição de médico para "subjugar vítimas em situação de fragilidade, demonstrando total desrespeito à ética profissional e aos direitos fundamentais das pacientes".
Procurado pela reportagem, o advogado Hermes Vilchez Guerrero, que representa Danilo, afirmou que neste momento o "fundamental" é que o médico responda às acusações em liberdade, uma vez que a prisão foi decretada por risco de fuga. "Na segunda-feira ele foi intimidado em casa, na terça-feira foi preso em casa. Outra razão seria a de não frequentar o hospital, já que ele está afastado da instituição por decisão da diretoria", afirmou o defensor.
O EM procurou o Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) para saber se há alguma investigação interna sobre as denúncias contra o médico. No entanto, a entidade se limitou a dizer que todas as acusações "formais e de ofício" recebidas são apuradas. "Todos os procedimentos abertos correm sob sigilo, conforme previsto no Código de Processo Ético-Profissional."