Jovem mineira estreia no cinema em 'O agente secreto', premiado em Cannes
Laura Lufési nasceu em Azurita, estudou teatro no Cefart, mudou-se para São Paulo e ganhou papel ao fazer teste para o longa de Kleber Mendonça Filho
compartilhe
Siga noLaura Lufési está com 25 anos e as coisas têm acontecido de forma rápida e intensa em sua vida. Mineira de Itaúna, ela foi criada em Azurita, distrito de Mateus Leme, na Grande BH, com pouco mais de 3 mil habitantes.
Criança, já falava com o pai do desejo de ser atriz. Há poucos dias, estava em Cannes, em um dos maiores festivais de cinema do mundo, acompanhando de perto as premiações recebidas pelo novo filme de Kleber Mendonça Filho, “O agente secreto”, de cujo elenco ela faz parte.
Leia Mais
“Virei a primeira pessoa da família a sair do país, com meu primeiro trabalho no cinema”, postou ela, dias atrás. Laura conta que o pai, que a criou sozinho, pois a mãe morreu muito cedo, sempre lhe deu apoio, apesar de não ver muitas perspectivas na profissão de atriz.
“Ele dizia que se tivesse condições de bancar meus estudos, eu poderia investir nisso, embora a gente não tivesse meios de, por exemplo, ir para o Rio de Janeiro conhecer pessoas”, comenta Laura.
Formada em letras
Com 17 anos, ela se mudou para Belo Horizonte e ingressou no curso de letras da UFMG, ao mesmo tempo em que estudou teatro, primeiro no Sesi, depois no Cefart, da Fundação Clóvis Salgado. “Nunca deixei de lado a ideia de ser atriz. Fiz letras pensando em absorver melhor os textos para atuar”, destaca.
Depois de formar, ela se mudou para São Paulo e entrou para a Escola de Artes Dramáticas da USP. “Tinha o pessoal do cinema no prédio ao lado de onde eu estudava, ei a trabalhar com eles fazendo curtas, o que me ajudou a ficar à vontade na frente da câmera. Comecei com gente que também estava começando, e foi bom, porque é quando você pode errar.”
Laura fez testes e foi aprovada para participações nas séries “Sintonia”, da Netflix, e “Colônia”, do Canal Brasil. “Foram coisas pequenas, de uma diária só”, pontua.
A jovem mineira não se afastou do teatro. Logo que chegou a São Paulo, conheceu a atriz e diretora Georgette Fadel, da Cia. São Jorge de Variedades, na qual ingressou para integrar o elenco da peça “Festa dos bárbaros”, com a qual rodou bastante.
“Foi muito legal, porque você ganha a dimensão do coletivo, do teatro de grupo, que hoje em dia é uma coisa difícil de sustentar. Aprendi muito”, ressalta.
Certo dia, recebeu e-mail enviado por Gabriel Domingues, diretor de elenco de “O agente secreto”, perguntando se tinha interesse em um teste.
“Achei que era golpe, mas fui conferir e vi que era verdade. Fui para a casa de uma amiga, fiz o teste, uma réplica, e enviei. aram-se dois meses, eu achando que não tinha rolado. Em fevereiro do ano ado, recebi a mensagem dizendo que Kleber estava em São Paulo e gostaria de me conhecer”, relata.
Sorte e axé
Laura fez outro teste com Domingues, presencial desta vez, falando de suas perspectivas e ando o texto da personagem. Uma semana depois, recebeu o convite formal para integrar o elenco de “O agente secreto”.
“Foi muito louco mesmo. Não conhecia ninguém, não tinha canais para ar esse lugar. Então foi muita sorte, muito axé, isso chegar a mim da forma orgânica como chegou, para eu poder mostrar que era capaz de fazer”, diz, sem revelar detalhes da personagem e do filme, que ainda vai estrear no Brasil.
Laura se sentiu plenamente acolhida ao longo dos dois meses e meio de gravação do longa que saiu de Cannes com os prêmios de Melhor Diretor, para Kleber Mendonça Filho, e Melhor Ator, para Wagner Moura.
“É uma equipe maravilhosa. É meu primeiro filme, sou uma pessoa jovem, mas eles não deram margem para que me sentisse insegura. Isso foi uma das coisas que mais me surpreendeu. Estava ali de igual para igual, contribuí com o que podia. Todo mundo me ajudou a saber que eu estava pronta”, afirma.
A atriz que debutou no cinema em filme premiado está, neste momento, gravando o segundo longa, do qual é protagonista.
“Borda do mundo”, da diretora Jô Serfaty, vale-se da realidade do local onde está sendo rodado: Atafona, distrito de São João da Barra, no litoral norte fluminense, que vem sendo “engolido” pelo mar.
“Se não me engano, sete quarteirões já desapareceram nos últimos 50 anos. As pessoas vão perdendo as casas. A história mostra avó e neta, que interpreto, pescadoras nessa situação de perder a casa. Tem todo um contexto social e racial, porque é um lugar turístico, vendido como paraíso distópico”, diz Laura.
“É um privilégio muito grande estrear no cinema em um filme como 'O agente secreto' e já no segundo longa ser a protagonista.”
Escolhida pelo cinema
Laura tem o teatro como base, mas se sente à vontade fazendo cinema. “É algo que me escolheu, porque não busquei isso, não tive esse foco. Você vai entendendo os lugares em que se encaixa melhor, acho que fui escolhida pelo cinema”, diz, ressaltando a importância de manter os pés no chão, sem deslumbramento.
"Isso vem do teatro. Você vai vendo a realidade de quem trabalha nesse meio no Brasil, não tem a coisa do sonho glamouroso de ser atriz.”
Em “Borda do mundo”, ela se considera em “outro corpo do cinema”. Protagonista, grava diariamente por até 12 horas, algo que “O agente secreto” não demandou. “É um trabalho que exige, ao mesmo tempo, vitalidade e relaxamento”, afirma.