Celina Aquino
Celina Aquino
Formada em jornalismo pela PUC Minas. Começou como estagiária nos Diários Associados e teve agens por editorias como Polícia, Saúde, Imóveis, Negócios e Emprego. Hoje é especializada em gastronomia e também escreve sobre moda
ACEITO UM DOCE

Por que os doces conventuais portugueses têm o mesmo sabor

Com a chegada do açúcar, freiras e monges começaram a criar receitas para não cometer mais o pecado do desperdício

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Estive em Portugal recentemente e aproveitei a viagem para conhecer o máximo de confeitarias. Tenho que confessar que não sou fã de doces de ovos, que são a base da maioria das receitas de lá. Gosto mesmo do pastel de nata, e ponto. Mas fui exatamente com esse objetivo: entender se era uma questão de paladar ou se nunca tinha comido algum bom de verdade.


Não há como negar que a confeitaria portuguesa é muito rica em história – que, inclusive, se conecta com a nossa história. Os doces mais conhecidos surgiram dentro de conventos e mosteiros, por isso são chamados de doces conventuais.

 


No período em que Portugal se destacava como um grande produtor de ovos, as claras eram usadas no processo de clarificação de vinhos e para engomar as roupas da nobreza e de religiosos. As gemas acabavam sem utilidade.


Com a chegada do açúcar, que era produzido nas colônias, como o Brasil, freiras e monges começaram a criar receitas para não cometer mais o pecado do desperdício. Assim, chegaram à mistura de açúcar, gema de ovos e farinha, replicada em incontáveis doces. As amêndoas, que remontam à influência árabe, também aparecem com frequência, assim como a canela.

 


Cada região de Portugal tem um doce conventual típico. O mais famoso, sem dúvida, é o pastel de Belém, que faz referência a uma região da capital lisboeta, eleito uma das sete maravilhas da gastronomia portuguesa. Em outros lugares, ele atende por outro nome: pastel de nata.


Na minha viagem, uma das paradas obrigatórias era na confeitaria Pastéis de Belém, onde se produz, desde 1837, a receita secreta dos monges do Mosteiro dos Jerónimos, que fica bem próximo. Você pode pedir no balcão e sair comendo, mas preferi sentar e apreciar cada mordida na casquinha crocante de massa folhada com recheio cremoso de gemas, leite e açúcar. A canela fica na mesa para quem quiser “temperar” o doce.


Descobri, por acaso, a Confeitaria Nacional, no Centro de Lisboa, que tem quase o mesmo tempo de história: está em funcionamento desde 1829. É famosa por adoçar oficialmente a vida da família real – e hoje do presidente de Portugal – com doces como o rebuçado de ovos, a velha conhecida combinação de açúcar, ovos e amêndoas em tamanho e formato de bala.

 


Gostei de ver, também em Lisboa, o trabalho de uma confeitaria que moderniza a doçaria conventual, respeitando a tradição. Desde 1957, a produção da Alcôa se baseia em antigos saberes de monges da Ordem de Cister registrados em documentos dos mosteiros de Santa Maria de Alcobaça e de Cós.


Na vitrine, misturam-se receitas antigas e novidades do ano, todas feitas manualmente em tacho de cobre. Dá para experimentar do cornucópia (massa igual ao nosso canudinho, só que com recheio de... gema de ovo e açúcar) ao Coroa da Abadessa, criado em 2017 para a visita do papa Francisco a Fátima, feito com gema de ovos, açúcar, amêndoa, avelã, abóbora gila e uma moderna decoração com fios de caramelo.

 


Na cidade de Sintra, visitei a confeitaria Casa da Piriquita, que reproduz desde os anos 1940 a receita criada por monges do Convento dos Capuchos: o travesseiro de Sintra. O nome faz referência ao formato retangular e à leveza da massa folhada, recheada com creme de ovos e amêndoas e polvilhada com açúcar.


Seguindo a lógica das receitas e suas cidades ou regiões, encontramos Pudim Abade de Priscos de Braga, Ovos Moles de Aveiro, Brisa do Lis de Leiria, Encharcada de Évora, Pastel de Tentúgal, pão de ló de Ovar, Sericaia do Alentejo, Pastéis de Santa Clara de Coimbra... É impressionante como Portugal tem doces de ovos famosos em toda localidade.

 


Essa viagem foi uma ótima oportunidade de mergulhar na história da confeitaria portuguesa. Ao mesmo tempo, confirmei o que suspeitava: os doces conventuais têm praticamente o mesmo sabor, só muda o formato. Continuo a gostar do pastel de nata, e ponto. Para mim, é o doce mais gostoso de Portugal.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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