Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

Quem é Nayib Bukele, a bola da vez de Romeu Zema

Zema sonha se agigantar na bolsa de cotações do bolsonarismo. Contudo, poderá desidratar-se caso a política apelativa seja substituída por algo mais construtivo

Publicidade

Mais lidas

O governador Romeu Zema (Novo) ainda não distribuiu “cadeiradas”. Mas na trilha de Pablo Marçal e em pré-campanha à Presidência da República, vai a El Salvador reproduzindo o discurso de “criminalidade zero” da extrema direita global de que estaria a caminho da “terra prometida”. É mais uma, entre tantas ações intensificadas em 2025, em que Romeu Zema tenta, com a retórica, demonstrar ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que a no filtro ideológico e, por isso, por ele deve ser “ungido” em sua caminhada ao Palácio do Planalto. El Salvador é a bola da vez.

Há algumas coisas bem menos alardeadas no governo salvadorenho e na personalidade de seu presidente Nayib Bukele do que a anunciada queda na criminalidade. Publicitário reeleito em 2024, desafiando a Constituição que proibia esse instituto, Bukele se fez pela força dos algoritmos. Articulistas internacionais classificam-no como liderança populista e autoritária. Comanda hoje um estado de exceção: prisões sem ordem judicial, suspensão da liberdade de associação e do direito ao habeas corpus, além da extensão do período de prisão provisória. Atropela, assim, qualquer perspectiva de respeito ao devido processo legal. Com 6,5 milhões de habitantes – menos de um terço do estado de Minas Gerais – El Salvador goza hoje do título de país com a maior população carcerária do mundo: 2% estão presos.

 

Afinado com o projeto da big techs (e da extrema direita global), El Salvador foi o primeiro país a adotar o bitcoin como moeda nacional. Alcançou o status de “paraíso do cripto”, em que pese neste momento esteja revisando a sua rota: em janeiro deste ano, por exigência do Fundo Monetário Internacional (FMI), ao qual recorreu Bukele para empréstimo de US$ 1,4 bilhão, El Salvador retirou o bitcoin do status de moeda legal. Em tal “paraíso”, a economia anda mal, muito mal.

 


Bukele controla o Executivo, o Legislativo e o Judiciário em seu país. É consistente com a extensa cartilha global da extrema direita planetária, que reza a corrosão das instituições democráticas após ter sido eleito democraticamente: em 2021, poucas horas depois de empossado o novo Congresso, os parlamentares de maioria bukelista destituíram, além do procurador-geral da República, todos os ministros independentes da suprema corte, substituindo-os por magistrados alinhados. Na época, Bukele foi aplaudido por Eduardo Bolsonaro, então deputado federal (que estava em exercício). Nem precisa dizer que Bukele ataca a imprensa livre e promove a informação “chapa branca”.

 

Ao escolher El Salvador como modelo, talvez o governador Romeu Zema – que diz defender a “liberdade”, critica o Poder Judiciário e deixa subentendida a percepção bolsonarista de que aqui no Brasil vivemos uma “ditadura” –, acredite estar visitando a “democracia” da América Central. É sabido que bolhas ideológicas, mergulhadas em dissonância cognitiva, vivem em universos factuais paralelos. Nelas, as perspectivas sempre podem se inverter: democracias tornam-se ditaduras; ditaduras, democracias. Tudo é ressignificado. Mas talvez esse novo Zema que mais recentemente emerge das mídias digitais tenha clareza de sua escolha e, com ela, acredite estar agindo estrategicamente para seduzir Jair Bolsonaro com a ideia de que com ele compartilha a mesma (ou até mais extrema) régua ideológica.

Seja qual for o caso, em sua caminhada ao Planalto, Romeu Zema se percebe em uma guerra de todos contra todos: no campo da extrema direita, para se firmar entre os demais candidatos; no campo político que se formará em contraposição, contra o qual se prospecta concorrendo. Guilhotinando quaisquer traços de autenticidade, Zema sonha se agigantar na bolsa de cotações do bolsonarismo. Contudo, poderá desidratar-se em qualquer cenário em que a política apelativa seja substituída por algo mais construtivo. Pelo momento, aposta em Bolsonaro e segue ziguezagueando em busca de uma indicação. Diria Thomas Hobbes: “Força e fraude são duas virtudes cardeais na guerra”. Serão na política?

O filtro 

Enquanto o presidente nacional do Partido Liberal, Valdemar da Costa Neto, só tem olhos para o número de cadeiras que serão carregadas na votação do deputado federal Nikolas Ferreira (PL) na eleição para a Câmara dos Deputados, o PL de raiz bolsonarista está preocupado com outra coisa: a rigorosa seleção ideológica dos candidatos que integrarão a chapa.

   

 

Só se for raiz 

Projetando para Nikolas Ferreira uma votação de no mínimo dois milhões de votos, o PL nacional acredita que de Minas poderão se eleger cerca de 18 dos 53 parlamentares mineiros. Nomes com potencial eleitoral superior a 50 mil votos estão sendo avaliados em relação ao perfil ideológico. Candidaturas do “velho PL”, de viés político, não terão vez. Fabinho Liderança, egresso do MDB, é um dos poucos com garantia de escapar dessa rede. Mesmo assim, está se esforçando.

No Republicanos 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

Com a filiação recusada pelo PL de Minas, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha irá concorrer para deputado federal pelo Republicanos. Ele faz a campanha no Triângulo Mineiro, pelo tripé evangelismo, time de futebol e agronegócio. Cunha conta também com uma concessão de rádio, adquirida do empresário Hermany Andrade Junior, batizada de Rádio Maravilha. Condenado e preso na esteira da Operação Lava-Jato, algumas das ações que tramitam contra ele foram anuladas. 

Fato ou boato? 

O ex-procurador-geral de Justiça Jarbas Soares Jr. vem sendo mencionado como potencial candidato ao Palácio Tiradentes no círculo de políticos próximos ao senador Rodrigo Pacheco (PSD). Questionado, Jarbas Soares Jr, nega. 

Cidadão honorário 

Por indicação do deputado estadual Mauro Tramonte (Republicano), a Assembleia Legislativa concedeu o título de cidadania honorária de Minas ao presidente do Grupo Vila Galé, Jorge Rebelo de Almeida. Natural de Lisboa, o Vila Galé é o segundo maior grupo hoteleiro português. O grupo inaugurou neste sábado o seu primeiro empreendimento em Minas Gerais, o Vila Galé Collection Ouro Preto, no antigo Colégio Dom Bosco, localizado no distrito de Cachoeira do Campo, em Ouro Preto.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

Tópicos relacionados:

ditadura minas-gerais zema

Parceiros Clube A

Clique aqui para finalizar a ativação.

e sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os os para a recuperação de senha:

Faça a sua

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay