Ana Mendonça - Estado de Minas
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EM MINAS

Um mandato exercido à distância na Assembleia

Alê Portela (PL), que, embora licenciada para comandar a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedese), continua operando como deputada de fato

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Freud dizia que o ser humano resiste a abrir mão de três posições: o amor, a razão e o poder. A fantasia de controle é tamanha que, mesmo ausente, o sujeito deseja permanecer atuando, influenciando e decidindo. Em Minas, essa resistência à renúncia tem expressão concreta: o mandato parlamentar. E poucos casos ilustram tão bem essa pulsão quanto o de Alê Portela (PL), que, embora licenciada para comandar a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedese), continua operando como deputada de fato.

 

Visita municípios, anuncia rees, negocia com prefeitos e mantém controle rígido sobre os recursos que um dia foram e, na prática, ainda são gerenciados por sua caneta. No Instagram, comemora ao lado dos mandatários municipais a destinação de recursos para saúde e educação. Posa para fotos, sorri e articula lideranças para construir base para uma futura eleição.

 

 


Um mandato exercido a distância, com precisão cirúrgica e aval silencioso do próprio partido. A prática, vale dizer, não é ilegal. Tampouco rara. Mas permanece orbitando uma zona cinzenta da ética pública, onde o que se pode fazer nem sempre é o que se deveria.


O convite para assumir a Sedese partiu do próprio governador Romeu Zema (Novo). A nomeação foi articulada em meio ao esforço do Palácio Tiradentes para reforçar laços com a bancada evangélica e ampliar a presença feminina no primeiro escalão. Alê, herdeira política de Lincoln Portela (PL),

representava a simbiose ideal entre conservadorismo ideológico e discurso técnico. Mestre em direito ambiental, com MBA em governança, também se apresenta como coach certificada nos Estados Unidos. Uma biografia moldada para transitar entre púlpitos, plenários e powerpoints.


Hoje, quem assina o mandato na Assembleia é o suplente Lincoln Drumond (PL), que assumiu a cadeira sob um pacto tácito: manter a engrenagem funcionando conforme o desenho original. Enquanto chefia a Sedese, Alê monopoliza as emendas. Cuida de cada centavo como se fosse extensão da biografia e segue batendo o martelo sobre quem pode, ou não, falar em seu nome nas bases.


Fontes da coluna relatam que a convivência entre o suplente e a secretaria tem sido delicada: “Ele está tentando equilibrar as pontas, mas está sob pressão. De um lado, prefeitos. Do outro, a titular”.
Não é a primeira vez que a secretária precisa reafirmar o controle. Em 2023, a suplente Amanda Teixeira Dias (PL), hoje deputada, se recusou a seguir suas orientações, exonerou aliados e declarou que o mandato era dela. O embate obrigou Alê a sair temporariamente da secretaria, retornar à Assembleia dentro do prazo regimental, aprovar suas emendas na LOA e, só então, reassumir o posto no Executivo. Uma operação milimetricamente calculada.


Procurada pela coluna e questionada sobre a agenda dupla da chefia, a Secretaria de Desenvolvimento Social afirma, em nota, que toda a movimentação ocorreu dentro das normas legais.
“O licenciamento do mandato parlamentar não implica em impedimentos legais e/ou políticos para a continuidade das atividades do mandatário”, diz o texto. Segundo a pasta, a execução das emendas segue os fluxos habituais, e o mandato, embora formalmente afastado, continua “anunciando regularmente as ações realizadas”.


Nos bastidores da ALMG, a prática já tem nome: “mandato por procuração”. E embora não seja nova, ainda incomoda.


Alê não vota, mas manda. Está na Sedese, mas age como se estivesse em plenário. O burburinho cresce, mas poucos confrontam diretamente. Afinal, o sobrenome pesa e o grupo político, mais ainda.
Não à toa, o ex-secretário de Governo Gustavo Valadares (PMN), em situação semelhante, manteve o controle de sua base mesmo durante a gestão no Executivo. Ao retornar ao Legislativo, encontrou o gabinete intacto. O trono, guardado.


O caso de Alê ainda explicita um traço ancestral da política mineira: o poder raramente é exercido de maneira solitária, mas quase nunca é de fato compartilhado. O mandato, nesse modelo, deixa de ser uma função pública e a a ser patrimônio simbólico. Não se cede: se empresta, provisoriamente, até que se possa retomá-lo com a autoridade de quem nunca saiu.


Há gabinetes em que o nome na porta muda, mas o poder permanece. O coronel de hoje não precisa mais do latifúndio nem da patente, basta-lhe o domínio das emendas e a fidelidade dos suplentes.

 

 

Climão em Contagem

A visita de Lula a Contagem, na quinta-feira (12/6), terminou em confusão entre parlamentares da base aliada. Alguns não conseguiram nem sequer entrar no evento. A deputada federal Célia Xakriabá (Psol) foi uma das barradas: chegou, não conseguiu o e deixou o local em menos de dez minutos visivelmente abalada, saiu chorando. A cena gerou desconforto entre aliados e reacendeu o debate sobre a organização das agendas presidenciais em Minas, já que esta não é primeira vez que parlamentares ficam de fora da agenda presidencial petista. 

 

 

Filho de peixe?

A pesquisa divulgada na semana ada com o nome do pastor Edésio Ferreira entre os cotados ao Senado agitou os bastidores do PL mineiro. Segundo apuração da coluna, o levantamento foi encomendado por Nikolas Ferreira (PL) para testar a força eleitoral do pai. O resultado agradou: Edésio teve bom desempenho e ganhou visibilidade. Mas o destino político já está traçado. A aposta da família e o combinado com Jair Bolsonaro (PL) é que ele dispute vaga na Assembleia Legislativa em 2026. A prévia ao Senado, portanto, serviu mais como vitrine do que como projeto real. Enquanto Nikolas segue com a mira Brasília, o pai finca pé em Minas. Estratégia de DNA.

 

 

Narrativa sob custódia

A prisão de Jair Bolsonaro (PL) já não é hipótese remota, é contingência em fase avançada de planejamento. Em conversa recente, aliados mineiros discutiram não se ela vai ocorrer, mas quando. A previsão mais ouvida nos bastidores é de até outubro. A coluna apurou que uma operação digital já está em curso. Equipes ligadas ao bolsonarismo preparam vídeos, textos e discursos para garantir que, mesmo preso, Bolsonaro continue no centro da narrativa, como vítima ou mártir.

 

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